Quis um dia ser jardineira...


Como ave, retorno ao meu ninho.
E sinto que continua macio...
Desço devagar... com calma... com zêlo.
Continua macio...
No meu retorno, fecho os olhos e penso nos versos de Cora Coralina:


Coração é terra que ninguém vê

Quis ser um dia, jardineira de um coração.
Sachei, mondei - nada colhi.
Nasceram espinhos e nos espinhos me feri.
Quis ser um dia, jardineira de um coração.
Cavei, plantei.
Na terra ingrata nada criei.
Semeador da Parábola...
Lancei a boa semente
a gestos largos...
Aves do céu levaram.
Espinhos do chão cobriram.
O resto se perdeu na terra dura
da ingratidão
Coração é terra que ninguém vê - diz o ditado.
Plantei, reguei, nada deu, não.
Terra de lagedo, de pedregulho - teu coração.
Bati na porta de um coração.
Bati. Bati. Nada escutei.
Casa vazia. Porta fechada,
foi que encontrei...


Cora Coralina
(1889-1985)

Mais sobre Cora Coralina em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cora_Coralina


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