Oh... meu guri!!!
"Remexo com um pedacinho de arame nas minhas memórias fósseis.
Tem por lá um menino a brincar no terreiro:
entre conchas, osso de arara, pedaços de pote,
sabugos, asas de caçarolas, etc.
E tem um carrinho de bruços no meio do terreiro.
O menino cangava dois sapos e os botava a puxar o carrinho.
Faz de conta que ele carregava areia e pedras em seu caminhão.
O menino também puxava, nos becos de sua aldeia,
por um barbante sujo umas latas tristes.
Era sempre um barbante sujo.
Eram sempre umas latas tristes.
O menino é hoje um homem douto
que trata com física quântica.
Mas tem nostalgia das latas.
Tem saudades de puxar por um barbante sujo umas latas tristes.
Aos parentes que ficaram na aldeia esse homem douto
encomendou uma árvore torta - para caber nos seus passarinhos.
De tarde os passarinhos fazem árvore nele".
(Manoel de Barros, do livro "Retrato do artista quando coisa")
Nesta semana, dentre tantas coisas que aconteceram quero destacar um fato: durante uma Oficina Educativa realizada em uma Escola Municipal para alunos do 8° ano, sobre o tema Educação para o Trânsito, a ministrante falava empolgada sobre a necessidade de um comportamento seguro para a prevenção de acidentes. Exibiu filmes, fêz dinâmicas de grupo e interagiu com os alunos utilizado-se de uma linguagem direta e envolvente. Todos manifestavam muita satisfação pela exposição da palestrante. Num determinado momento, um adolescente levanta a mão e pergunta: "Posso fazer uma pergunta para a senhora?" Ela, prontamente, diz que sim. E ele pergunta: "Quando a senhora era criança, a senhora era pobre?"
Lógico que muitas são as interpretações que surgem a partir deste diálogo. E vou manifestar a minha: impossível mensurar o quanto se toca na alma humana principalmente das crianças) quando as tratamos com respeito, com cuidado e com carinho. Impossível saber por onde viajava o pensamento daquele menino naquele momento. Uma coisa, porém, é certa: ele estava fortemente identificado com a fitura da professora.
E então ... eu volto no tempo - na minha infância e adolescência e me ponho a lembrar: quantos momentos mágicos como este eu vivi, onde pessoas me proporcinaram essa viagem mental, profunda e que até hoje servem de alimento para a minha vida? Como esquecer a biblioteca cheia de livros, onde aquela moça de olhos verdes chamada Ilka sempre me aguardava com um novo texto ou um novo livro??? Como esquecer o Mestre Luiz, que ficava no corredor recitando frases e contando histórias? Como não lembrar do dia de sol em que passeávamos pelas águas do Rio Paraguai, as margens de Corumbá, ouvindo Manoel de Barros recitar suas poesias? Como esquecer aqueles momentos que chegam a minha mente com cheiro, vento e luz do sol...
O adolescente mencionado acima gostaria de ser como a professora! Na verdade, ele quer ser como ela: inteligente, simpática, cuidadosa, carinhosa, envolvente... Ele quer ter o que acha que ela têm... e julga que essas qualidades tem a ver com a riqueza e a pobreza...
De certa forma, ele tem certa razão mas... Oh.... meu guri! isso tem muito mais haver com a riqueza contida no coração das pessoas. Tem haver com o amor incondicional que transborda do coração daqueles que abandonam o seu conforto e a sua acomodação e saem na busca da construção de um mundo melhor...olhando com carinho e generosidade nos olhos das crianças!!!
Oh... meu guri! Saiba que a maior riqueza está dentro do seu coração! Cuide dele! Cuide dele com carinho, com amor... Cuide dele! É ele que permitirá que você alcance lugares e espaços hoje possíves apenas em seus sonhos!
Isabel que texto lindo!
ResponderExcluirObrigada, Tânia! Volte sempre!!! bjsss
ResponderExcluirlindo, lindo, lindo...eh de gente assim q esse mundo precisa! gente de verdade, humana, q mostra pras nossas crianças q todos viemos do mesmo lugar... te amo, mamãe!!!
ResponderExcluirPolly... só hoje vi seu comentário... lindo... saudes.....
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