Quando o amor vem à tona...


"Talvez o que mais nos assuste
quando o amor vem à tona
seja essa habilidade que ele tem para revelar
os nossos medos todos.
As nossas belezas.
As nossas feiuras.
As nossas sementes que puderam florescer com viço.
As nossas sementes que não conseguiram dizer suas flores.
As nossas sementes que temem florir.

Talvez o que mais nos assuste
quando o amor vem à tona
seja essa habilidade que ele tem para revelar
as nossas borboletas que souberam se desvencilhar dos casulos.
As nossas crisálidas apavoradas por se saber com asas,
embora sonhem, encantadas, com o néctar da vida.
As nossas feras vorazes e ressentidas.

Talvez o que mais nos assuste
quando o amor vem à tona
seja essa habilidade que ele tem
para revelar os nossos avanços. A nossa estagnação.
Os nossos fracassos.
As nossas vergonhas.
As nossas vaidades.
A nossa arrogância, que muitas vezes não é outra coisa
senão um disfarce que o embaraço usa
para esconder o conflito por sentirmos tanto afeto
sem saber direito como expressá-lo.
Como fazê-lo circular.

(...) O amor nos desnuda a alma,
nós que muitas vezes, ao longo da vida,
nos enchemos de peças de roupa
de tudo o que é tipo, físicas ou sutis, óbvias ou disfarçadas,
para tentar escondê-la.
Saber a própria alma nua
e não ter jeito de tapar-lhe as partes íntimas,
de inibir sua exibição, de pedir-lhe modos,
é um desconforto dos grandes
para quem se acostumou a viver pequeno por parecer mais cômodo,
sem arredar os movimentos do território áspero do ilusório controle.
É um desconforto dos grandes
para quem se acostumou a tratar a emoção com recato,
sob o custo de amordaçar a alegria fluida do tambor do prazer.
Essa que ressoa, sempre,
mesmo que aparentemente silenciosa, no nosso coração.

O amor chega e abre as janelas,
escancara as portas todas,
rasga o tecido frágil das redomas que criamos para nos proteger,
a gente se assusta.
Olhando de perto ou de longe,
não é sem razão (....)

Que perspicácia da vida, meu Deus,
isso de fazer as pessoas se encontrarem por meio do amor,
que, quando vem à tona,
latente que pulsa a maior parte do tempo,
remexe em tudo,
esvazia falsas verdades,
inaugura saberes e sabores,
bagunça o coreto todinho,
faz a gente olhar para a própria nudez.
E começar a gostar dela. A respeitá-la.

A princípio, quando o amor vem à tona,
a gente acha que precisa se entender com o outro, sobretudo.
Não é verdade, o chamado principal é de outra natureza.
Com o outro, se a fluência permitir dos dois lados,
pode acontecer um encontro lindo,
real e imperfeito, como todos, e é claro que a gente torce por isso.

Pode não acontecer também,
às vezes o tempo de duas pessoas,
por mais que se gostem,
não coincide para o desafio bom da vivência mútua do afeto.
Mas, o amor pelo outro é, principalmente,
esse espelhamento: no fundo, quando vem à tona,
o chamado é para nos entendermos com nós mesmos.
Com a nossa história.
Com as nossas sementes.
As nossas flores.
As nossas borboletas.
As nossas feras. As nossas feridas.
As nossas luzes.
As nossas sombras.
A nossa alma.

(...) O amor, sendo divino pelo seu caráter criativo e transformador,
é também o que de mais humano existe.
No amor, com todas as minhas singularidades,
eu me irmano com toda gente.
E reconheço que, embora não saibamos muito bem
o que fazer com a essência desse lume,
com tudo o que dispõe e possibilita,
ele clareia os caminhos e nos faz avançar,
nos ajuda a ser mais parecidos com nós mesmos.
Mais inteiros.
Mais espontâneos.
Mais livres.
Mais generosos.

Embora não saibamos muito bem o que fazer com o amor,
ele sabe o que faz com a gente.
Ninguém, arrisco, permanece igual
depois da diferença de um encontro de amor.
Alguns se acovardam tanto,
que às vezes parece que é pra sempre.
Outros, passam a ter mais coragem,
ainda que com todo o medo.

Mas, pra gente viver não é preciso mesmo não ter medo.
É preciso, apesar dos medos todos,
ter valentia para ser e sentir,
essa capacidade que o amor, habilidoso,
consegue burilar com toda a calma do mundo em nós."

- Autora: Ana Jácomo -
http://jakutinga.blogspot.com/2010/09/quando-o-amor-vem tona.html


Chegou em muito boa hora esse texto para mim... Preencheu um vazio... "Ninguém permanece igual depois da diferença de um encontro de amor"...Ana Jácomo, a autora, está de parabéns pela sensibilidade e pela capacidade de expressar, em palavras, o momento que o amor chega em nossas vidas...Espero que vocês gostem tanto...como eu gostei!!!...


Comentários

  1. Bel,

    Seu blog está lindo...um espaço frutífero de sonhos e poesias. Me faz bem ler seus textos.
    beijo
    saudade!!!

    ResponderExcluir
  2. Bel,
    Lindas mensagens...adoro vir passear aqui, me faz bem e me traz bons sentimentos!
    bjs
    saudades

    ResponderExcluir
  3. Obrigada pelo carinho, baiana! Você me motiva a continuar... grata isso também.... bjsss

    ResponderExcluir
  4. Eis a causa do fracasso de muitas relações e o motivo pelo qual tantos procuram por alguém e ninguém se encontra: A resistência por se deixar conhecer, por se revelar sem as máscaras, medo de abrir-se ao outro.

    Gostei muito do texto.
    Abraços.

    ResponderExcluir

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