Para a criança que brinca dentro de mim...


Na minha infância os dias eram de sol e as noites repletas de estrelas.
A cidade onde nasci era pequena; melhor, não era uma cidade... era um vilarejo... Pouco mais de 50 familias eu acho... Um campinho de futebol, um mastro com balanços de correntes ao redor, uma igrejinha pequena, uma escola, um armazém que vendia muito leite condensado e feijão, um rio largo e silencioso... uma prainha tranquila, muitas pombas e pássaros... uma ponte coooomprida... alguns barcos de pescadores atravessando o rio... Muitas árvores, muitas mangas... muita sombra... muitos sonhos!

Vivi ali até os 9 anos de idade e gostava de brincar com areia e com as flores que caiam das árvores. Faziam bolos, brincava que tinha uma casa, alguém ia me visitar... servia doces enfeitados por flores do chão... E conversava, e conversava...

As vezes deitada à sombra de uma mangueira, olhava as nuvens e ficava imaginando coisas através do formato delas: via então ovelhinhas, via elefantes, anjos de asas grandes, um velho gordo assoprando outras nuvens... E imagina histórias... e imagina coisas...

Depois, quando chegava o final da tarde, gostava de ver o sol se pôr... ficava vermelho, depois violeta, depois rosa claro, depois cinza... e somente então anoitecia.

Dai aparecia a primeira estrela... Grande, bonita... um sinal de que outras viriam depois! Até o céu ficar todo pontilhado de milhares delas!

Da minha infância guardo a capacidade de sonhar... de imaginar...
Guardo a esperança... as noites de estrelas e os dias de sol...
Guardo o sabor doce das mangas pequenas...

Guardo a certeza de que, depois da primeira estrela brilhante,
muitas outras surgirâo
e enfeitarão as noites por mais sombrias que ela sejam!!!

(por Isabel Alvaren)

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